Do Altar ao Palácio: Onde está a Coragem de João Batista?
Por Samuel Souza
Recentemente, um dos maiores líderes religiosos do nosso país fez uma visita ao presidente da República. A cena, amplamente divulgada, mostrou sorrisos, elogios e gestos de cortesia diante de um governo que, notoriamente, representa uma ideologia contrária aos princípios do cristianismo bíblico.
Não se trata aqui de política partidária — trata-se de princípios espirituais. A esquerda ideológica, que tem sido defensora de pautas como o aborto, a ideologia de gênero, a relativização da família e o desprezo pelas Escrituras, não pode, sob hipótese alguma, ser vista como parceira do Reino de Deus. “Porque que comunhão há entre a luz e as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial?” (2 Coríntios 6:14-15).
O que entristece o coração dos que amam a verdade é perceber que, diante desse encontro, muitas vozes outrora respeitadas por sua firmeza se calaram — e algumas, para piorar, se apressaram em endossar o gesto. Pastores, cantores, influenciadores “gospel” e líderes regionais apressaram-se em postar mensagens de apoio, talvez não por convicção, mas por conveniência. Buscam manter o prestígio, garantir convites, preservar o olhar favorável de quem ocupa posição de destaque. É o flerte com a serpente — o mesmo que seduziu Eva, agora disfarçado de cordialidade institucional e “diálogo cristão”.
O que está em jogo não é uma fotografia, mas um símbolo. Quando um homem que representa a fé de milhões se curva diante de um poder que afronta os valores do Reino, não é apenas ele que se ajoelha — é toda uma geração de crentes que observa e, confusa, passa a achar que alianças com o sistema do mundo são aceitáveis.
Onde estão os profetas de outrora?
Onde estão os homens que, como João Batista, não temiam perder o pescoço, mas jamais calavam a verdade? Ele olhou para Herodes e disse: “Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão” (Marcos 6:18).
Não havia bajulação, não havia política — havia temor de Deus. João perdeu a cabeça, mas não perdeu a honra de ter sido fiel até o fim.
Hoje, o que mais falta não é poder, influência ou microfone — é autoridade espiritual. Aquela que não se compra com likes, nem se negocia com abraços em gabinetes. Autoridade vem do altar, e o altar só se mantém aceso quando há sacrifício, renúncia e separação do mundo. A Palavra diz: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4:4).
Este alerta não é de ódio, é de zelo.
A Igreja do Senhor precisa despertar. Os que ainda têm influência — seja sobre uma multidão ou apenas dentro da própria casa — precisam erguer a voz e dizer: “Não!” Não à conivência com o erro. Não ao aplauso político travestido de diplomacia. Não à busca por prestígio em detrimento da verdade.
A história nos mostra que o preço da omissão é sempre alto. Quando os profetas se calam, as serpentes falam. E é justamente por amor à verdade que precisamos nos indignar — santa indignação, que não nasce do orgulho, mas do Espírito Santo.
Ainda há tempo de se arrepender, de voltar ao primeiro amor, de rasgar o coração diante do altar e lembrar: “É melhor agradar a Deus do que aos homens” (Atos 5:29).
Que o Senhor levante novamente uma geração que não se curva ao sistema, que não negocia princípios e que, ainda que perca o aplauso dos grandes, conserve o favor do Céu.
Porque, no fim das contas, o trono que realmente importa não está em Brasília, está no alto e sublime lugar, de onde o Senhor reina eternamente.