Culto ou Palco? A Invasão da Mídia no Lugar Santo
Eu entendo que os tempos são outros e que existe uma cultura midiática na nossa sociedade atual. Vivemos na era da exposição, em que tudo é filmado, registrado e compartilhado nas redes sociais. No entanto, precisamos refletir com seriedade: será que o culto, lugar de reverência e encontro com Deus, deve ser transformado em cenário para fotos e filmagens?
Muitos departamentos de mídia nas igrejas têm ultrapassado o limite do saudável e do edificante. Câmeras, flashes e gravações, feitas em meio ao culto, não raramente acabam constrangendo os fiéis. Pior ainda: imagens são publicadas sem consentimento, expondo pessoas em momentos íntimos diante de Deus. Quem vai à casa do Senhor não o faz como quem participa de um espetáculo, mas como alguém que busca socorro, refúgio e consolo. Quantos entram no templo quebrados, feridos, em pranto, precisando apenas abrir o coração diante do Senhor? Ser filmado ou fotografado nessa hora não é incentivo espiritual, é invasão.
A Bíblia nos ensina que o culto é um lugar de ordem, reverência e santidade: “Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus” (Eclesiastes 5:1). Paulo também nos lembra que tudo deve ser feito “decentemente e com ordem” (1 Coríntios 14:40). Pergunto: onde está a ordem quando pessoas não conseguem se concentrar na adoração porque uma câmera as acompanha? Onde está o respeito pela dor alheia quando um choro diante do altar se transforma em material de divulgação?
A igreja não é um palco, nem os fiéis são figurantes de um show. A missão da Igreja sempre foi e sempre será a propagação do Evangelho, e não da imagem de uma denominação. A história nos mostra que, por séculos, a mensagem de Cristo se espalhou sem precisar de fotos ou vídeos. O testemunho, a pregação fiel e a vida santa dos crentes foram suficientes para incendiar o mundo com a chama do Evangelho. A igreja primitiva não tinha redes sociais, mas tinha o poder do Espírito Santo — e esse era o verdadeiro diferencial.
Não estou dizendo que a mídia não pode ser usada. Ela é uma ferramenta útil quando usada com sabedoria, discrição e respeito. Mas quando o recurso passa a atrapalhar a devoção, a ferir a privacidade e a transformar o culto em vitrine, algo está errado. O culto não é lugar de marketing, mas de arrependimento, consagração e adoração.
Esse alerta não é um desabafo vazio, mas um chamado sério à reflexão para aqueles que têm poder de mudar esse quadro: pastores, líderes e responsáveis pelos departamentos de mídia. São eles que podem reavaliar e ajustar a prática atual, estabelecendo critérios que respeitem a privacidade e preservem o espírito de adoração.
Por outro lado, aos irmãos que se sentem incomodados com essa realidade, mas não têm autoridade direta para alterá-la, fica uma palavra de orientação: não troque de igreja por causa disso. Não permita que o incômodo se torne um motivo de divisão ou afastamento. Antes, intensifique a oração. Clame para que o Senhor toque no coração dos líderes, dando-lhes discernimento e sabedoria para fazerem a devida adequação — de modo que a comunicação seja eficiente, mas sem ser invasiva.
Afinal, a Igreja é o corpo de Cristo, e cada membro tem sua função. Alguns podem agir diretamente, outros podem interceder. Mas todos, juntos, devem buscar a edificação e a santidade da casa do Senhor. Oremos para que o culto continue sendo aquilo que deve ser: um lugar de encontro com Deus, de reverência, de santidade e de amor fraternal, onde a prioridade é Cristo e a Sua Palavra.