Empresários da Fé: Quando o Evangelho Vira Produto
Quando uma alma se rende a Cristo, parece que o céu abre as janelas e derrama luz como manhã depois de tempestade. Há festa, há canto, há esperança. Poucas coisas brilham mais que o brilho no rosto de alguém que encontrou a Verdade e o Caminho.
Mas que dor amarga é ver, logo depois, que tantos desses “convertidos” não buscam cruz, arrependimento e serviço, e sim palco, produto e faturamento. Não se vê fruto de transformação, só o lucro como norte. Em vez de Bíblia surrada e joelho calejado, vemos ring light, slogan pronto e “mentoria de avivamento” por assinatura mensal.
O mercado da fé virou vitrine digital. Proliferam “empreendedores ungidos”, oferecendo chave, código, manto, desbloqueio, experiência, conferência VIP, tudo com botão de compra piscando como letreiro de neon. Parece o surto das locadoras de VHS ou das pizzarias de bairro de décadas atrás: onde o povo correu, a ambição correu mais rápido. Só que agora não se vende pizza, vende-se promessa; não se aluga filme, aluga-se espiritualidade por parcelas.
A tristeza maior não é a esperteza de quem monta essa feirinha gospel. A tristeza maior é a cegueira de tantos que seguem batendo palmas, compartilhando, comentando, dando engajamento como quem bombeia gasolina no tanque do engano. Ficam eletrizados por frases bonitas e câmeras bem posicionadas, enquanto a verdade bíblica grita abafada no fundo.
E enquanto isso, o pregador sincero, que carrega sua Bíblia e uma toalhinha dentro da mochila, anda de ônibus, pega poeira na estrada, ora para ter o valor da passagem e o pão do dia. Ele prega para vinte pessoas numa congregação esquecida, enquanto o “influenciador do altar” faz check-in em hotel de luxo.
Mas Deus vê. O Deus que pesou o coração de Faraó e contou as lágrimas de Ana não perdeu seu olhar. Ele não troca o secreto pela vitrine. Ele não falha com quem o busca de verdade.
O mercado pode subir e descer como maré. Os “empresários da fé” podem colecionar seguidores como moedas. Mas aquele que semeia com sinceridade colhe no tempo certo. O Senhor ainda sustenta o humilde, ainda exalta o fiel, ainda honra o servo que dobra o joelho longe das câmeras.
Não se escandalize, leitor. Não se canse. Não desista. O Cristo que purificou o templo com cordas nas mãos continua purificando corações e derrubando mesas. A fidelidade dele não falha, e quem o busca de coração jamais fica desamparado.
Samuel Souza
Diretor da Rádio Pavio Que Fumega